Tinha cinco anos. Seu tio o levou para assistir à disputa no jóquei da cidade. Ficou impressionado ao ver os senhores de chapéu com olhos fixos nos cavalos em disparada. As mãos apertadas com bilhetes entre os dedos. O roçar de dentes. O desejo.
Naquele dia, o menino também fez suas primeiras escolhas. Não sabia os números, mas tinha um certo faro pra perceber quem seria o vencedor, talvez sorte.
Na escola, passou a apostar mais que meras figurinhas, cartas, lanches, até concluir que a vida parecia demais com uma corrida de cavalos. Uma questão de sorte. Uma aposta, sem chance de volta.
Sua mãe demorou a perceber o tom desafiador na voz do filho. Aquele seu jeito de olhar como quem diz “pago pra ver”. Certa vez, pensou que era coisa da juventude e continuou a arrumar a sala.
Depois, o garoto passou a fazer apostas com ele mesmo. Difícil foi perder. Mudava as regras no meio do jogo, só pra não correr tamanho risco. Os amigos o ouviam, sussurando sozinho: par ou ímpar, valete ou reis, cara ou coroa.
Na hora da sua morte, quando já era um velho senhor de barbas brancas e cansadas, desistiu da aposta. De todas que ainda restavam. Deu um sorriso bobo como quem não quer nada. E dormiu sem ganhar ou perder.